Perdidos no Tempo - Capítulo 1: "O Homem da Praia"

quarta-feira, setembro 16, 2015

                Era segunda feira. O sol tinha acabado de nascer. Algumas pessoas começavam a correr. Outras se preparavam para ir ao trabalho. A rua, pouco a pouco, se enchia de gente. Ele já estava lá. Antes de todos. À primeira vista era só mais um maluco andando pela praia. E como um grande número de malucos, ele estava nu. Ninguém viu de onde ele veio, nem como chegou ali. E ninguém ligava, na verdade. Ele ficou por ali, vagando a esmo e balbuciando palavras que ninguém ouvia. Nu!

               Foi preciso que o sol atravessasse quase todo o céu, transformando a manhã em tarde para que alguém tomasse alguma atitude em relação àquele estranho. D. Norma ligou para a polícia. Ela havia ficado horrorizada quando sua netinha de oito anos ficou apontando para aquele homem nu conversando sozinho. As duas voltavam de um passeio no shopping e estavam presas no engarrafamento de fim de tarde. Sofia, a menina, olhava pela janela da parte de trás do carro e ria alto, querendo que a vovó visse o “moço engraçado”. Os policiais apareceram depois de quase duas horas, sem saber ao certo qual era a finalidade do chamado, afinal, não havia batida, nem gritos, nem confusão, nem briga e nem arrastão. E o tempo todo que os homens da lei tentavam descobrir o que fazer, o maluco ainda estava lá. Conversando sozinho.

               Quanto tempo demorou até que os tiras percebessem que o coitado que pegaram não estava bem de seu juízo? Quanto tempo até eles notarem que não se tratava de um tarado, um maníaco ou algo do tipo? Muito tempo. O suficiente para o desconhecido ganhar alguns hematomas, sem reclamar. A cada tonfada, soco ou bofetada que levava, ele repetia a mesma frase. Até que descobriram que o indivíduo não batia bem. Tava lelé! E o que era um caso simples, que não levaria muito tempo pra resolver, só jogar o homem na cela, se tornou um grande problema. O que fazer com ele? Não tinha documentos, nem endereço, nem familiares. Nenhum conhecido. Nunca ninguém o havia visto. Só restava uma alternativa. Manicômio público!

               E esse poderia ser o fim da história. Poderia!

               Dois anos depois, o nosso estranho amigo desconhecido ainda se encontrava no hospício. Ele não incomodava a ninguém e ninguém se incomodava com ele. Seguia a mesma rotina todos os dias, e parecia não sentir a passagem do tempo. Até que um certo estudante de psicologia, já no seu penúltimo ano, resolveu fazer uma pesquisa de campo para embasar sua futura monografia de formatura. Ele só não esperava encontrar um doido anônimo, sem família, vivendo em um mundo próprio. E repetindo sempre a mesma frase:


                - “Eu não devo alterar o passado.”

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